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19 de mar. de 2015

Retrô: Xenogears (PSX)



Memórias de uma luta por sobrevivência no deserto


No ano de 1998, uma Squaresoft dominadora do mercado de RPGs lançou para o Sony Playstation o jogo que carregaria o seu maior e mais elaborado enredo, Xenogears, em uma caixa com CD duplo. O game tinha todos os quesitos acima de seus precedentes, contando com um sólido sistema de batalha em um mundo aberto e cheio de trabalho. Quem desejasse ver o final normalmente teria de passar por mais de 100 horas de jogo. Não que isso fosse muito quando falamos de um título dessa qualidade.


Uma história de Deus

A história de Xenogears se passa no ano 2001. Um estranho objeto é encontrado em um campo geológico, cientistas começam a crer que encontraram a origem da vida na Terra. As hipóteses apresentadas em torno do assunto geram polêmica entre todos, ainda mais quando foi comprovado que o objeto tem mais de 4 bilhões de anos de idade, muito mais do que a idade do planeta. Conforme o tempo passa, as grandes junções científicas falham em descobrir qualquer coisa sobre o assunto, passando-o adiante a cientistas amadores do projeto Zohar, que tampouco desvendam o mistério. 


Cinco séculos depois, os humanos estão prontos para deixar a Terra. O calendário é substituído, marcando a transição para a Era Transcendental a Cristo e rebatizando nosso planeta, agora selado, para “Velha Jerusalém”. Após vagarem a esmo no espaço por 250 anos, a tripulação finalmente encontra um planeta com condições de vida, colonizado com o nome de “Nova Jerusalém”. A vida parece ter encontrado o seu rumo, até que algo acontece...

O mesmo estranho objeto é encontrado em uma nave sem tripulação, pertencente a uma seita religiosa, vinda da Velha Jerusalém. Os trabalhos de pesquisa são então reiniciados. Um computador chamado Deus consegue controlar a energia biológica do objeto. As coisas dão errado e Deus assume o controle da base humana, abrindo um transporte à Velha Jerusalém. O comandante não aceita que os humanos retornem e sai pelo espaço novamente, separando-se de Deus, que cai na antiga Terra. Um novo ciclo de vida é iniciado do zero no planeta, dando origem ao enredo de guerras vivenciado pelo jogador em Xenogears.


100 horas, sem problemas

Xenogears não se tornou um clássico à toa. A Squaresoft, em sua melhor forma, criou uma gama de personagens altamente carismáticos para acompanhar o jogador durante uma aventura tão enorme, ao menos para a época. O último RPG de tanto sucesso, também da mesma softhouse, havia sido Final Fantasy VII, grande responsável pela popularização do gênero no ocidente.

Os gráficos não eram lá grande coisa mesmo para os padrões da época, mas para o core gamer isso não era a coisa mais importante. A ambientação era feita num 3d pixelado e os diálogos apresentavam os nossos velhos conhecidos personagens desenhados.

Uma característica do título que virou referência eterna no gênero foi o seu sistema de batalha. Com personagens em 2D num tosco fundo 3D, as batalhas eram das mais satisfatórias já vistas. Os ataques, sempre por turno, eram desferidos mediante diferentes combinações de botões, que formavam especiais mais fortes. Conforme ganhava experiência e subia de level, o personagem ia ganhando (além de HP e MP) pontos de ação, que permitiam o desencadeamento de golpes e de combos mais poderosos.

À parte de toda a ação, os diálogos obrigatórios eram sempre extremamente longos, o que é justificado pela história mais profunda já vista em um game. Era difícil escolher qual dos personagens era mais cativante. Todos possuíam uma personalidade única e aprofundada, e são muitos deles. Esses personagens já teriam conteúdo suficiente para qualquer RPG, mas há outros, cujo nome do game menciona. Os Gears.
Os Gears

Neste game os grandes robôs chamados de Gears são um espetáculo à parte. Cada um dos personagens jogáveis principais possui o seu próprio Gear, que parece refletir as suas personalidades. Claro, os robôs podiam (e tinham de) ser utilizados em batalha. Quando um personagem possuía meros 600 pontos de HP estando em boa forma, um Gear em seus primeiros passos tinha aproximadamente 15 mil. Partes podiam ser adquiridas em lojas ou por outros meios para equipar e melhorar os Gears, tornando a administração desses tão essencial para o progresso no jogo quanto os próprios personagens.

Antigamente, as coisas eram mais difíceis. Algumas vezes, jogadores avançados no game, com cerca de 70 horas jogadas, tinham que iniciar tudo de novo após salvar o jogo na sala de um chefe que não estavam prontos para enfrentar. Chefes mais poderosos que não participavam do enredo, possibilidade de explorar o mapa mundi à vontade, tudo foi trazido para a jogabilidade, à qual não falta absolutamente nada.

Por isso, Xenogears foi sucesso instantâneo no mundo inteiro, para crítica e jogadores. Chegou a ser eleito o décimo sexto melhor game de todos os tempos pelos leitores da revista nipônica Famitsu, famosa por ser a mais exigente de todos os tempos. Após vender dois milhões de cópias no PSOne, recebeu uma versão Greatest Hits em 2003 e foi lançado para download na PSN em 2008. 

 As sequências

A franquia recebeu uma trilogia de sequências para o Playstation 2 em 2003, 2005 e 2006, produzidas pela Namco. Sob o nome de Xenosaga, não chegaram nem perto do sucesso alcançado pelo game original, embora sejam bons títulos. Todos são anteriores a Xenogears.em cronologia. Embora tenham recebido em média boas críticas da imprensa, as continuações eram RPGs bastante tradicionais em sua fórmula, porém os longos diálogos, que foram mantidos através de toda a série, causavam tédio em jogadores já acostumados a títulos com mais ação.

As cenas em anime continuaram (muito melhoradas) e os personagens da trilogia são tão cativantes quanto os do original, o que torna o título importante para fãs tradicionais do gênero. O PS2 foi um console que ficou marcado por descaracterizar grandes séries de RPG, o que não aconteceu ao menos com Xeno, onde as batalhas continuam sendo por turnos e a tradição foi mantida. São horas de jogo obrigatórias para os donos de um PS2 que não tenham medo de ler bastante e entrar de cabeça numa história profunda.


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