Bem-vindo ao lado escuro de sua mente
Neste post vamos falar de um survival horror, gênero que
ainda faz bastante sucesso hoje em dia, porém que no fim da década de 90 era
uma verdadeira febre. O primeiro survival horror a jamais ser feito não é Alone
in The Dark, como o leitor está pensando. Trata-se de Sweet Home, lançado pela
Capcom em 1989 para o NES. Vale uma jogadinha por curiosidade para saber de
onde a mesma produtora tirou todo o sucesso de Resident Evil (PSOne e PC), pois
a semelhança é incrível. Desde o lançamento deste último, em 1996, o gênero
virou hit quase que instantaneamente, dando origem a um oceano de imitações que
não chegaram nem aos pés da qualidade de RE.
Silent Hill, da também japonesa Konami, que estreou no ramo
do Survival Horror em grande estilo, em meio a uma enorme competiçção, afinal a
Capcom ainda colhia os frutos do excelente Resident Evil 2 e acabava de anunciar
o lançamento de RE 3: Nemesis para o mesmo ano de Silent Hill, 1999.
Nasce uma série de
sucesso
Para os jogadores da época e, devido a esse contexto, era
impossível não fazer comparações. Embora até hoje exista um grande debate em
torno de qual das duas franquias tem mais qualidade, o grande mérito da
produção da Konami foi precisamente poder ser comparado à da Capcom, algo que
nenhum outro game tinha conseguido até então. O segredo de Silent Hill era o
seu terror diferenciado.
Com base nos melhores thrillers do cinema, SH
conseguia reproduzir uma atmosfera sombria, tensa e assustadora. Num momento em
que todos já estavam mais que acostumados a lançar foguetes em zumbis que
infestavam corredores, SH deixava o jogador completamente desnorteado em uma
cidade aberta onde não se enxergava um palmo adiante. Tudo isso com uma fraca
pistola em punho que, por ter pouquíssima munição, tornava obrigatório o uso de
um cabo de aço como proteção.
O game usava artifícios que causavam tensão o
tempo todo, sendo difícil para algumas pessoas até mesmo continuar jogando após
uma ou duas horas. Não ter nenhuma música acabou virando uma tradição que seria
mantida por toda a série, pois torna a jogabilidade mais estressante. O único
destaque vai para a música de abertura, gravada até hoje na cabeça dos
jogadores da época.
Polêmicas à parte, no quesito jogabilidade SH dava de dez a
zero em RE, pois o personagem não era duro de controlar e movia-se livremente. A
série também marcou o fim dos inimigos lentos e previsíveis. O herói tinha que
se virar, geralmente sem armamento suficiente, contra cachorros, criaturas
voadoras, fantasmas e outros muito mais aterrorizantes, todos completamente
possuídos por alguma força maligna. Quem não tinha arrepios ao ter de fugir
deles que atire a primeira pedra! O enredo era profundo e cheio de aspectos
pesadíssimos que fizeram deste um dos games mais sombrios de todos os tempos.
Tão profundo que merece uma explicação...
Atenção
A Konami é especialista em criar histórias complicadas e
cheias de buracos, basta lembrar de qualquer Metal Gear Solid. Silent Hill é de
longe a mais complicada delas, mas nós vamos tentar. Lembre-se de que há
algumas coisas que foram feitas para serem imaginadas pelo jogador, portanto
fique á vontade. Cautela é recomendada, pois há muitos spoilers!
Uma Cidade de Férias
A história começa quando Harry, um homem comum, está levando
sua filha Cheryl para a isolada cidade de férias chamada Silent Hill, próximo
ao Lago Taluca nos Estados Unidos. Cheryl havia sido encontrada abandonada e
foi adotada por Harry e sua esposa, já falecida, há sete anos. Pouco antes de
entrarem na cidade, coisas estranhas acontecem. Uma policial de moto passa pelo
carro. Mais adiante, a moto está caída no meio-fio, sem ninguém por perto.
Harry vê uma menina no meio da estrada e bate o carro ao desviar. Quando
acorda, já está dentro da cidade, completamente deserta, percebendo que sua
filha não está mais com ele. O protagonista mal sabe o que está esperando por
ele quando sai em busca da menina.
Logo nos primeiros passos pela cidade, o homem descobre que
o lugar está possuído por algum tipo de força demoníaca, que às vezes
transforma tudo o que está em volta em um ambiente grotesco e aterrorizante. O
lugar está povoado por alguns poucos humanos e muitas criaturas que parecem
demônios. Ao invés to T-Virus de Resident Evil, em Silent Hill temos o
Culto. Por trás dessa atividade misteriosa está Alessa Gillespie, filha da
bruxa do jogo, Dahlia Gillespie. Alessa
é apenas uma garotinha, cuja dor deu início a todos os acontecimentos sinistros
de Silent Hill. O mal presente na cidade precisa se alimentar de medo e de dor
para crescer. É aí que descobrimos que Harry está ali popósito. Os sonhos de
Cheryl falando sobre Silent Hill eram um chamado, pois Harry tem uma
sensibilidade extra para ver e sentir coisas sobrenaturais.
O Verdadeiro Plano
A idéia de Dahlia é restaurar o antigo Culto que imperava na
cidade antes de todo o mal acontecer. Este Culto pretende revelar o “verdadeiro
poder de Deus” e quem assistiu ao filme sabe bem que tipo de “poder” é esse. Um
verdadeiro caos. Para que isso possa acontecer, Alessa Gillespie tem de ser
unida, por meio de um ritual, a Cheryl, que já saiu no encalço da primeira. É
nesse momento que Dahlia começa a tentar persuadir Harry, durante todo o jogo,
de que Alessa está espalhando a Marca de Samael, um grande mal, por todo o
lugar. Para quem não sabe, esta é uma entidade bastante sinistra, tirada da
cabala.
Na realidade, Alessa não está fazendo isso, mas este é o único jeito de
fazer com que aquele homem ajude Dahlia a chegar perto de sua filha, pois
sozinha, isto seria impossível devido ao grande poder de Alessa. A “Marca”
espalhada por todo o jogo na verdade não tem nada a ver com Samael, ela é a
Marca de Metatron, também da Cabala, um anjo extremamente poderoso. A mulher só
está querendo causar confusão, tendo sucesso em manipular Harry
até o momento do encontro das duas meninas, no final do jogo.
Esta é apenas uma visão geral da história do primeiro
título. Os títulos subsequentes ajudam a revelar muito mais por trás deste
enredo complexo, fazendo com que quem tenha gostado do título original fique
muito curioso para jogar a série inteira. Apenas não se engane com o filme,
pois seu enredo, apesar das claras alusões, não segue a linha do game. Uma
excelente pedida para fãs de horror!
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